Como decidimos
A MÃO DE PÓQUER
Michael Binger é um físico molecular da Universidade de Stanford. A sua especialidade é a cromodinâmica quântica, um ramo da Física que estuda a matéria na sua forma mais elementar. Binger é também um jogador profissional de póquer e passa a maior parte de Junho e de Julho sentado às mesas de jogo forradas de pano de feltro verde num casino de Las Vegas, competindo no Torneio Mundial de Póquer (WSOP), o mais importante evento de póquer do mundo. Faz parte de um dos milhares de jogadores que efectuam essa peregrinação anual‑ mente. Talvez esses tubarões de cartas não se pareçam com atletas profissionais – o torneio abunda em fumadores compulsivos –, mas são atletas da mente. Quando se trata de jogar póquer, apenas a qua‑ lidade das decisões diferencia os peritos dos amadores. Durante o Mundial de Póquer, Binger entra rapidamente numa exaustiva rotina mental. Começa a jogar por volta do meio‑dia – a sua modalidade favorita é o Texas Hold’em* – e só recolhe as fichas às primeiras horas da manhã. Depois vai aos clubes de strip, cabinas de moedas e buffets baratos e tenta ganhar umas horas de sono repara‑ dor de volta ao quarto do hotel. «Fica‑se tão ligado ao póquer, que é difícil aterrar», diz ele. «Tento estender‑me na cama, pensando em todas as jogadas que fiz e em como devia ter feito melhor.»1 Binger começou a jogar cartas quando era caloiro do curso de Ma‑ temática e Física na Universidade Estatal da Carolina do Norte. Um fim‑de‑semana resolveu aprender a jogar blackjack. Sentiu‑se rapida‑ mente frustrado pela percentagem de sorte implicada – «odiava não saber quando devia apostar», diz – e, por conseguinte, elaborou um método de contar as cartas. Praticou no meio do barulho dos bares, para aprender a concentrar‑se. Binger possui a benesse de uma mente
* Modalidade de póquer aberto. (N. da T.)
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COMO DECIDIMOS
quantitativa – «eu era sempre o parvo, que resolvia problemas de ma‑ temática por pura diversão», confessa –