Com Voc S O Medo

Desde muito cedo nessa agitação política pela qual passamos, notava que havia um personagem ali que, apesar de ir aparecendo apenas aos poucos, conforme sua atuação se mostrava mais impactante, desempenhava um papel muito contundente, o medo.
O medo começou a surgir quando ainda só haviam protestos em São Paulo, e estes estavam tomando proporções cada vez maiores. Sua primeira vítima foi o governo da cidade e do estado que, sabendo da força que o medo pode ter, empurrou­o para a população, com uma repressão crescente às manifestações, a qual teve seu auge na quinta feira, dia 13, fazendo com que, dessa vez, fosse a população que temesse, que temesse por sua integridade física ao irem protestar contra os aumentos.
Porém, a repressão foi como um tiro no pé dos próprios governantes. Inconformadas com a tentativa de privá­los do direito de livre manifestação, mais e mais pessoas foram às ruas, e agora o movimento já não era mais municipal, mas sim, nacional. Confrontado com o medo, o povo não se deteve, mas, ao contrário, enfrentou­o bravamente, devolvendo para o governo um monstro dos mais amedrontradores, sua insatisfação epidêmica, que ebulia em meio aos manifestos, e infestava toda a população.
A situação chega aqui num ponto importantíssimo, em que o governo se vê frente a uma ingrata escolha, ou começa a acatar a reivindicação do movimento, a diminuição das tarifas dos transportes públicos, e certifica ao povo o poder que ele tem, ou continua resistindo à crescente insurgência popular. Diversos municípios começam a diminuir suas tarifas, algumas vezes antes mesmo de verem protestos em suas ruas, até que, finalmente,
São Paulo revoga seu aumento. A missão estava cumprida, mas apenas momentaneamente, pois as vozes e cartazes nas ruas clamavam que