Circo, memória e conemporaneidade

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MEMÓRIA E CONTEMPORÂNEIDADE DO CIRCO BRASILEIRO
PARA NÃO CAIR NO OLVIDO

A imagem de um cachorro amarrado por uma lingüiça é a mais contundente lembrança da memória do meu avô materno. Como seria esse tempo dele em que cachorros eram amarrados por lingüiças?
Como raspa do tacho cresci em meio à gente grande que falava de coisas do tempo antigo, dos tostões e de quando o América era o tampa de crusch no futebol pernambucano.
Garoto sempre suburbano, fui sendo impregnado – sem me dar por isso, de referências culturais cotidianamente definidoras do meu modo de agir, pensar, comer (em todos os sentidos), rezar e reproduzir o que nem imaginava ser arte. Porque sem saber o que era a vida, acreditava que eu era a vida. As festas religiosas, o carnaval de rua (ah! Como era fantástico ver o moleque tomar o banho no auge da brincadeira de Lavadeiras de Areias), o Xangô de Dona Preta e os circos no Campo do Piolho ou no Largo do Ipiranga, e um pouco mais tarde, ao lado do açude do Timbi. Tudo isso antes de ser palhaço, dançarino e ator – exatamente nessa ordem. Era no tempo em que minha mãe cobria a TV ABC preto e branco com uma proteção de acrílico colorida (verde ou azul durante a semana, e multicolorida aos sábados, domingos e feriados), bem antes do estouro de Tapacurá – que nunca estourou.
Essa narrativa da minha memória, aparentemente sem valor histórico para o mundo, lembra o ofício do narrador historiográfico citado por Baudelaire como um “trapeiro”, um catador de sucata e lixo. Aquele que recolhe cacos, restos, detritos para garantir sua sobrevivência, mas também para que nada seja perdido, esquecido. É o registro que a historiografia oficial durante séculos não soube o que fazer com ele, e por isso foi deixado de lado como algo sem significação, importância e sentido. Era a sobra do discurso histórico.
O excitante debate teórico que estimula a discussão sobre a relação entre História e memória tem atravessado gerações de historiadores, envolvendo os

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