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O Filho Eterno, um olhar paterno: o narcisismo na obra de Cristovão Tezza

Maurício Eugênio Maliska e Carmen Lucia dos Anjos Ferreira

Introdução

O Filho Eterno1 de Cristovão Tezza2(2011) é um romance de ficção baseado nas próprias vivências do autor. Revela as sensíveis questões que envolvem a narrativa de um pai frente à deficiência de seu filho. Tezza, além de autor, é também uma parte do personagem do Filho Eterno e, ambos, possuem muitas coisas em comum: são professores e escritores em busca de reconhecimento, ambos com um filho com síndrome de Down e, ainda, com muitas dúvidas e incertezas a respeito da vida, da paternidade e de si mesmos.

Tezza (2014) acrescenta que, após o nascimento deste filho, cogitou escrever sobre o assunto, mas precisava encontrar oponto certo para não incorrer no erro de fazer um relato autobiográfico, pois não era esta sua intenção. Além disso, complementa, precisava de coragem para falar sobre um assunto que, com certeza, foi o mais impactante de sua vida. Porém, prossegue o autor, sentia que havia nele um desejo de falar, não exatamente a respeito da síndrome de Down, mas das relações de pai e filho, das reações a partir da notícia, das expectativas, da vida e sobre ele mesmo. Encontra o ponto certo quando decide transformar o personagem em um sujeito, sem nome, narrado na terceira pessoa do singular. Esse fato lhe deu a coragem necessária para que pudesse se entregar à obra, sem nenhum pudor. Trata-se, então, (MARTINS, 2011, p.190) de uma escrita do eu, em que o eu do discurso referencial se projeta no ele, máscara da ficção.

Certo de sua escolha, Tezza (2014), acrescenta: “Já sou um narrador naturalmente impiedoso e, ao me transformar em personagem, pude bater em mim mesmo sem problema”. Assim, desejando escrever, conta a história que tem início na primavera de 1980 quando, no hospital, durante a espera angustiante que envolve o momento que antecede ao nascimento de um filho, o pai, faz uma série de reflexões