Carnaval ou mundo como teatro e prazer
Todas as sociedades vivem entre opostos como trabalho e festa, corpo e alma, entre o real e o místico. Vivemos entre esses momentos passageiros que alternam entre rotina e extraordinário, mas que dependem de uma série de fatores. Podem variar de sociedade para sociedade e ser realizada coletiva ou individualmente.
Nossa biografia se faz pela alternância de situações que foram esquecidas com aquelas que guardamos como tesouros ou cicatrizes em nossa memoria.
A memória social, vulgarmente chamada de “tradição ou “cultura” é também marcada por esses momentos que se alternam entre o rotineiro e habitual e o que foi vivenciado como crise, acidente, festa ou milagre. Pois o homem é o único animal que se constrói pela lembrança, recordação, saudade, e se descontrói pelo esquecimento e pelo modo ativo que consegue deixar de lembrar.
No brasil, o rotineiro é sempre equacionado ao trabalho ou tudo aquilo que remete a obrigações e castigos, tudo que se é obrigado a realizar, enquanto o extraordinário é visto como algo fora do comum e por isso pode ser inventado e criado por meio de artifícios e mecanismos. Cada lado permite esquecer o outro, como duas faces da mesma moeda, mesmo fazendo parte de uma mesma totalidade.
Em nossa sociedade, temos consciência dessa alternância, de modo que a vida, para a maioria de nós, se define pela oscilação entre rotina e festa, trabalho e feriado, dias felizes e dolorosos, vida e morte, dias de trabalho duro do mundo real e os dias de fantasia e alegria que são constituídos pela festa, feriado e ausência de trabalho.
Na festa, vivemos o mito ou utopia da ausência de hierarquia, poder, dinheiro e esforço físico. Nela todos se harmonizam através de conversas amenas, na construção da festa, a música que congrega e iguala no seu ritmo e melodia é algo fundamental no caso brasileiro. Em contrapartida, no trabalho estamos martelando e construindo, batendo massa ou “batendo perna” para a