Cabares
MARCOS ANTONIO DE MENEZES∗
A belle époque com sua pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do realismo-naturalismo não sobreviveu às duas grandes guerras. Era a época das boemias literárias, como as de Montmarte e Munique. Dessa literatura de cafés e boulevards, de transição pré-vanguardista, é que vão se originar os inúmeros – ismos que marcarão o desenvolvimento de todas as artes no século XX. Símbolo desta época de fausto e euforia que feneceu com as guerras do século XX os cabarés[1] eram lugares de glamour onde as elites – primeiro a europeias, se divertiam com os lucros do espólio imperialista. O cancan era a dança deste lugar onde os janotas bebiam licor e as prostitutas de alta classe formavam a imagem frenética de um mundo enriquecido e alegre. Uma certeza inabalável presidia esse mundo: a de que ele era eterno e superior. Nestas casas os boás eram usados para efeitos cênicos e para envolver os espectadores pelas cores fortes e beleza. Aí o fígado do povo era desopilado com muito humor, humor sarcástico muitas vezes, de preferência com auto ironia, sofisticado para uns, grosseiro para outros, agressivo e de alta ferocidade e de alta periculosidade para os tiranos e os inimigos da liberdade de todas as equações. Os cabarés eram espaços pequenos e ligados ao submundo das grandes cidades europeias dedicados a shows, fossem eles de dança, teatro, música, contadores de piadas, strippers, enfim, um grande show de calouros onde a fumaça de cigarro nublava os holofotes e enchia as narinas. Os antecessores dos Cabarés haviam sido os Vaudevilles e os Boulevards, antes da Primeira Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra os Cabarés voltam a florescer e a determinar toda uma cultura, alguns em forma de Casas de Café, como o famoso Café Flore por onde Sartre e Simone de Beauvoir perambulavam. Os frequentadores dos antigos cabarés franceses foram retratados por