Bourdieu E Wacquant Imperialismo Da R Hellip

2541 palavras 11 páginas
O IMPERIALISMO DA RAZÃO NEOLIBERAL
Pierre Bourdieu
Löic Wacquant [*]
Em todos os países avançados, patrões, altos funcionários internacionais, intelectuais de projeção nos media e jornalistas do top, estão de acordo em falar uma estranha novilíngua [1] cujo vocabulário, aparentemente sem origem, circula por todas as bocas: “globalização”,
“flexibilidade”, “governabilidade” e “em-pregabilidade”, “underclass” e “exclusão”, “nova economia” e “tolerância zero”, “comunitarismo”
[2], “multiculturalismo” e os seus primos “pósmodernos”,
“etnicidade”,
“minoridade”,
“identidade”, “fragmentação”, etc.
A difusão dessa nova vulgata planetária – da qual se encontram notavelmente ausentes capitalismo, classe, exploração, dominação, desigualdade, e tantos vocábulos decisivamente revogados sob o pretexto de obsolescência ou de uma presumível falta de pertinência – é produto de um imperialismo apropriadamente simbólico: os seus efeitos são tão poderosos e perniciosos porque ele é veiculado não apenas pelos partidários da revolução neoliberal - a qual, sob a capa da “modernização”, entende reconstruir o mundo fazendo tábua rasa das conquistas sociais e econômicas resultantes de cem anos de lutas sociais, descritas agora como arcaísmos e obstáculos à nova ordem nascente –, mas também por produtores culturais (pesquisadores, escritores, artistas) e militantes de esquerda que, na sua maioria, continuam a considerar-se progressistas. Imperialismo Cultural
Como as dominações de gênero e etnia, o imperialismo cultural constitui uma violência simbólica que se apóia numa relação de comunicação coerciva para extorquir a submissão e cuja particularidade consiste, neste caso, no fato de universalizar particularismos vinculados a uma experiência histórica singular, ao fazer com que sejam desconhecidos enquanto tal e reconhecidos como universais [3] .
Desta forma, também no século XIX muitas questões ditas filosóficas que eram debatidas em toda a Europa, como o tema spengleriano da “decadência”,

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