Bordo das Naus
O que constituiu um forte atrativo para muitos que optaram por abandonar o sonho de enriquecer com a intermediação da pimenta em prol do cultivo ou trato com o açúcar.
A começar pelo tempo de viagem muito mais curto do que o sofrível trajeto de um ano até o Oriente, podendo o Atlântico ser cruzado em poucas semanas.
Todas as privações podiam ser suportadas mais facilmente a bordo dos navios da rota do Brasil, pois, dependendo da sorte, do regime de ventos e correntes marítimas, saindo de Lisboa, um navio podia chegar à costa nordeste do Brasil em pouco menos de um mês. Ao passo que, mesmo quando uma calmaria retardava a marcha do navio, Salvador podia ser atingida em pouco mais de dois meses, durando em média oito semanas a viagem entre Portugal e a Bahia.
Em 1549, por exemplo, a embarcação que trouxe o Padre Manuel da Nóbrega à Terra de Santa Cruz fez a “viagem [em] oito semanas”, descritas pelo clérigo como “[fervorosas] e [prosperas]”[1].
Já em 1553, o navio em que esteve embarcado o Padre Brás Loureço, devido à “vientos (...) algunos dias contrários”, o que inclusive fez os oficiais da caravela “[pensarem em] arribar a Portugal”, bem como a “algunos dias de calmarias, y uma sola pequenha tormenta saliendo de la barra de Lixbona, y una tempestade fuerte”, levou pouco mais de “dos meses” para cruzar o Atlântico e chegar até Salvador e, apesar do contratempo, nem por isto a viagem deixou de ser descrita como “bien [disposta]”[2].
Exatamente devido a esta característica, dado o gosto popular da época por histórias que retratassem apenas as misérias humanas e a necessidade do Estado de interrogar apenas os sobreviventes de mazelas, os relatos acerca do cotidiano nas embarcações da rota do Brasil são escassos.
No entanto, todos os indícios levam a crer que a vivência diária era em