Bonsai

A arte como simulacro da vida. A arte como uma válvula de escape, uma alternativa — temporária ou definitiva — para o existir, para a difícil tarefa de tomar parte no movimento caótico e desordenado do mundo. A arte como desafio, pessoal ou coletivo. A arte como lente encantada através da qual tudo parece significativo e fascinante. A arte como explicação e legitimação para a própria arte; a arte que concede a si mesma extrema importância e uma irrelevância absoluta. Em menos de cem páginas, em uma novela que é pouco mais do que um conto ou em um conto que é quase uma novela, o chileno Alejandro Zambra conta a história de Julio e Emilia, fala de amor e propõe questionamentos importantes sobre o que é a arte — a maneira como nos relacionamos simultânea e amorosamente com ela, com os outros e com nosso próprio eu. A brevidade da história não deixa antever sua profundidade e suas possibilidades, que alcançam, em Bonsai (Cosac Naify, R$ 23), esferas inimagináveis.

Alejandro Zambra dividirá, no dia 5 de julho, na Flip, uma mesa com Enrique Vila-Matas. O título do debate, aguardado por muitos e que contará com a mediação de Paulo Roberto Pires, é “Apenas literatura”. De certa forma, considerando-se a visão ao mesmo tempo divertida, condescendente, apaixonada e grave apresentada em Bonsai — uma visão que abarca o artista e aquele que consome o fruto do seu trabalho —, a literatura não é, para Zambra, apenas literatura: ela é parte indissociável da vida, confundindo-se com esta e interferindo em ações, palavras e destinos. A literatura é a vida tanto quanto a vida é o material do qual é feito a literatura: ambas se confundem e se intrometem uma na outra. Quem quer que tenha batizado o encontro dos dois autores de língua espanhola concebeu, conscientemente, uma ironia genial.

Como o enredo de um livro penetra no mundo do leitor? De que forma, e em que grau, a leitura pode transformar alguém? É possível se ocupar da vida com seriedade e intensidade e ao mesmo tempo