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76295 palavras 306 páginas
PRIMEIRA PARTE

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É uma história curiosa a que tenho de contar, uma história de difícil absorção e entendimento, por isso é uma sorte que eu tenha as palavras para cumprir a tarefa. Se eu mesma digo isso, quando talvez não devesse, é que, para uma menina da minha idade, tenho um ótimo vocabulário. Extremamente bom, para falar com franqueza. Porém, devido às opiniões rígidas de meu tio em relação à educação das mulheres, tenho escondido minha eloquência, soterrado meu talento e mantido apenas as formas mais simples de expressão aprisionadas no cérebro. Tal dissimulação transformou-se em hábito e foi motivada pelo medo, pelo grande medo de que, se falasse como penso, ficaria evidente meu contato com os livros e eu seria banida da biblioteca. E, como expliquei para a pobre sra. Whitaker (pouco antes de sua trágica morte no lago), isso é algo que não acredito que possa suportar.
Blithe House é um grande celeiro, uma mansão de pedra rústica com muitos cómodos, tão imensa que meu irmão caçula, Giles, tão rápido nas pernas quanto lento na cabeça, leva três minutos ou mais para percorrê-la; uma casa desconfortável e deteriorada pela prudência, negligenciada, com os gastos controlados rigidamente (meu tio ausente tendo perdido todo o interesse por ela), com vazamentos e buracos, traças e ferrugem, fria, mal iluminada, repleta de cantos escuros, de modo que, apesar de ter vivido aqui toda
A menina que não sabia ler - John Harding 2 a vida até onde consigo me lembrar, às vezes, especialmente às vésperas do inverno, quando vem caindo o crepúsculo, sinto tremores.
Blithe tem dois corações, um quente, um frio; um iluminado, outro sombrio mesmo no dia mais ensolarado. A cozinha, onde o forno está constantemente ardendo, é

alegrada pela gorda Meg, sempre sorridente e com os braços enfiados na farinha, normalmente flertando com John, o empregado, que tenta conseguir um beijo, mas contenta-se com uma bitoca enfarinhada. Na porta ao lado, com o fogo

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