Blues

Difícil escrever algo sobre blues que já não tenha sido contado à exaustão. É um gênero musical como nenhum outro. Possui uma estrutura básica de três acordes e doze compassos, em que os músicos se divertem absurdamente fazendo a mesma coisa de infinitas maneiras diferentes. Mas o blues não é só isso, descreve um sentimento que não se consegue traduzir. É como tentar explicar o que quer dizer saudade a um estrangeiro. É preciso muito mais do que um dicionário para entender o que “I got the blues” significa para quem diz. Sem um certo nível de intimidade com a cultura que envolve o gênero, certamente deixa-se de perceber nuances. E mesmo quem já está familiarizado às vezes se perde. Mesmo esse exercício que eu estou fazendo é em vão.

Para mim, o mais próximo que se pode chegar dessa resposta é ouvindo as definições dadas pelos lendários bluesmen. Aqueles que deixaram seu nome na história. E mesmo assim são respostas muito pessoais. O blues nasceu da necessidade de um povo em aliviar uma vida de opressão, sem perspectivas. Juntou origens e padrões musicais africanos à malandragem e à dura realidade que viviam nos Estados Unidos. O resultado foi algo tão forte que ultrapassou barreiras de tempo, espaço, cor, credo, nacionalidade.

Meu primeiro contato com o gênero foi através do filme A Encruzilhada, o pai de todos os filmes de blues, na minha opinião. Mal sabia eu que nunca mais seria o mesmo depois de ouvir o slide de Ry Cooder (que Ralph Macchio fingia tocar). O slide é um dos diversos ícones do blues. Ele dá características da voz humana às cordas da guitarra. Aquilo me tocou como poucas coisas na vida. O slide já estava no blues antes de ele ser o blues. Veio da África, onde instrumentos de uma corda eram tocados dessa maneira. Muitos guitarristas tiveram seus primeiros momentos de instrumentistas através dessa técnica, já que facilita muito a fabricação dos instrumentos, dispensando os cálculos relativamente complexos necessários para marcar a escala de um