Bios midiático

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Palavra
Bios midiático // The media Bios
Muniz Sodré1
O bios midiático é uma espécie de clave virtual aplicada à vida cotidiana, à existência real-histórica do indivíduo. Em termos de puro livre-arbítrio, pode-se entrar e sair dele, mas nas condições civilizatórias em que vivemos (urbanização intensiva, relações sóciomercadológicas, predomínio do valor de troca capitalista), estamos imersos na virtualidade midiática, o que nos outorga uma forma de vida vicária, paralela, "alterada" pela intensificação da tecnologia audiovisual conjugada ao mercado. Isto faz do bios midiático a indistinção entre tela e realidade - realidade "tradicional", bem entendido, uma vez que a realidade de hoje já se constitui sob a égide da integralidade espetacularizada ou imagística a que aspira o virtual. Trata-se de uma inflexão exacerbada do imaginário que, como bem o viu Deleuze, "não é o irreal, mas a indiscernibilidade do real e do irreal"2.
Esse bios não se define radicalmente, entretanto, como soma de todas as imagens tecnicamente produzidas, e sim como o poder dos modelos (assim como na ordem mítica, o poder é dos símbolos primordiais ou dos arquétipos), que se atualizam ou se concretizam em determinados tipos de imagens, historicamente sobredeterminadas. As imagens midiáticas que regem as relações sociais provêm dos modelos hegemônicos do capital e do mercado globais.
O espetáculo de hoje resulta, assim, de uma sobredeterminação histórica da imagem. A espetacularização é, na prática, a vida transformada em sensação ou em

1

Graduado em Direito pela UFBA (1964), mestre em Sociologia da Informação e Comunicação pela
Université de Paris IV (Paris-Sorbonne) (1967) e doutor em Letras pela UFRJ (1978). Atualmente é
Professor Emérito da UFRJ. Possui cerca de 30 livros publicados nas áreas de Comunicação e Cultura.
2
Deleuze, Gilles. Pourparlers. Minuit, 1990, p. 93.

Dispositiva

v.2 n.1

mai.2013/out.2013

109 entretenimento, com uma

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