biologia
E ESCUTA DE CORPO INTEIRO a lalíngua
de
Água
viva*
Maria das Graças Fonseca Andrade
UFMG / Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
RESUMO
Este trabalho estuda Água viva, de Clarice Lispector, a partir da noção lacaniana de lalíngua (lalangue), investigando aí a relação entre linguagem, inconsciente e Literatura, já que, para Lacan, “o inconsciente ‘é feito de lalíngua’” e ele se utilizará da experiência literária de Joyce para avançar em sua formulação. Água viva é aqui então pensado como um
“idiomaterno”, “que nos ‘afeta’ com ‘efeitos’ que são ‘afetos’”, como bem o diz Haroldo de Campos, parodiando Lacan.
PALAVRAS-CHAVE
Clarice Lispector, Água viva, lalíngua.
Escrevo-te toda inteira e sinto um sabor em ser e o sabor-a-ti é abstrato como o instante. É também com o corpo todo que pinto os meus quadros e na tela fixo o incorpóreo, eu corpo-a-corpo comigo mesma.
Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro.
Clarice Lispector
– (...) Pesa a palavra.
– Eu peso.
– Desenha a palavra.
– Eu desenho.
– Pensa a palavra.
– Eu penso.
Maria Gabriela Llansol.
Para Milla, que aos 7 anos começa a ler Clarice.
Para Ram Mandil, pela generosidade, pelo exercício conjunto em busca de sentido e por suportar dignamente conosco a falta dele.
Como começar a escrever sobre o que continua, não tem paragem e enfeitiça, se uma coisa infinda ainda não é, não tem suficiente contorno para ser, está em improviso constante?
*
Texto apresentado no I Colóquio LIPSI: Literatura e Psicanálise: o E da questão, realizado nos dias
6-7/9/2003.
Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit
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- ALETRIA
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Daí estarmos já de início na dimensão do inconcluso, porque se trata de coisa movediça:
Água viva. Mas como diz Clarice Lispector, “de qualquer ponto em que se está parte-se para o longe”.1 Assim, é possível abrir caminhos tantos. Assim é possível, para o leitor, lidar com esse