Barroco e Arcadismo
Soneto a D. Ângela de Sousa Paredes
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura:
Ontem a vi por minha desventura,
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma mulher, que em Anjo se mentia;
De um Sol, que se trajava em criatura:
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
Se esta a cousa não é, que encarecer-me
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:
Olhos meus, disse então por defender-me,
Se a beleza heis de ver para matar-me,
Antes-olhos cegueis, do que eu perder-me.
(Gregório de Matos)
Temática: O poema nos relata um sentimento de culpa do eu lírico, que ao desejar tão bela mulher, comete um pecado. Podemos ver no poema que, inicialmente, ele a caracteriza como uma mulher elegante, um Anjo, até mesmo como um Sol, mas depois pede aos seus próprios olhos que se ceguem, pois tal Anjo (que deveria protegê-lo) o levaria a morte, ou seja, ao pecado (perdição espiritual).
ARCADISMO
Quando cheios de gosto, e de alegria
Estes campos diviso florescentes,
Então me vêm as lágrimas ardentes
Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.
Aquele mesmo objeto, que desvia
Do humano peito as mágoas inclementes,
Esse mesmo em imagens diferentes
Toda a minha tristeza desafia.
Se das flores a bela contextura
Esmalta o campo na melhor fragrância,
Para dar uma idéia de ventura;
Como, ó Céus, para os ver terei constância,
Se cada flor me lembra a formosura
Da bela causadora da minha ânsia?
(Cláudio Manuel da Costa)