Bacharel

No extenso primeiro capítulo de seu livro “Problemas de Gênero”, Judith Butler fomenta questionamentos acerca de representação e identidade. Esta obra pode ser considerada única e revolucionária, se tivermos em vista que expõe observações pioneiras e únicas no cenário dos estudos sobre gênero. A propósito, é acerca de suas provocações que se estabelecem os debates mais acalorados dentro dos feminismos na atualidade, levando o título de seu livro em inglês - “Gender Trouble”, de forma menos óbvia que a tradução brasileira - a um patamar de realidade. O ponto de partida de Butler é a polêmica classificação universalista do que é “ser mulher”. A criação de uma categoria fechada – mulheres, no plural – estigmatiza as perspectivas de gênero, podendo criar inclusive um mal-estar entre o propósito das feministas e sua ação. Trata-se de lutar contra os rótulos expostos sobre um gênero, atribuindo categorizações para as mulheres. Isso, segundo a autora, diminui a sensação de ser representada às que escapam desta ideia cerceante, e criam a percepção de que o feminismo não engloba a totalidade de variações dentro do substantivo mulher. Como produto desse desígnio que não pode ser concebido (a universalidade da categoria mulher), nos é proposto um questionamento sobre a dicotomia sexo/gênero: seria o gênero unicamente um produto da aculturação do sexo? Não parece ser o caso para a autora, que busca discutir as possibilidades de uma identidade de gênero desligada do sexo designado no nascimento. Trata-se de expor que o gênero não é apenas um sub-produto da cultura social: antes mesmo da cultura entrar em ação, é atribuído ao indivíduo – inclusive juridicamente – o status de homem/mulher. Portanto, vemos em ação um dado pré-cultura, mas que pode posteriormente ser modificado pelo ímpeto identitário do próprio indivíduo em questão. Por conta desta pré-atribuição identificada pela autora, se faz necessário que ela própria faça emergir perguntas cruciais acerca do gênero,