Auto-controle e autonomia da ciência

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4 Auto-controle e autonomia da ciência
Passemos agora à última etapa de nosso argumento, que nos leva de volta à tese da neutralidade da ciência. A pergunta que se apresenta como ponto de partida é: terá o conceito de auto-controle alguma relevância em uma reflexão sobre a tese da neutra- lidade? Assim como no caso da economia, na qual se identificou “regulação” com “con- trole”, a resposta aqui também passa pelo reconhecimento de uma sinonímia bem cla- ra, a saber, a do auto-controle com a autonomia – sendo a autonomia um tema tradicional nos discursos sobre a ciência, diretamente ligado ao da neutralidade. Diz-se que a ciência é autônoma quando as decisões, que determinam seu modo de ser e de desenvolver-se, são tomadas pela própria comunidade científica, com base em seus valores internos – o valor fundamental do conhecimento como um fim em si mesmo, e os valores mobilizados na escolha entre teorias (na terminologia de Lacey, os valores cognitivos). Na concepção ortodoxa da ciência, todos esses valores são pensa- dos como universais e perenes, superiores assim aos valores sociais, variáveis segun- do as culturas e ao longo do tempo. Em termos mais concretos, a autonomia constitui a reivindicação de que a prática científica não sofra interferências externas, de natureza religiosa, política ou ideológica. Em colaboração com Pablo Mariconda, Lacey escreveu um excelente artigo, in- titulado “A águia e os estorninhos: Galileu e a autonomia da ciência” (Lacey & Mari- conda, 2001), onde se mostra como a reivindicação de autonomia nasce junto com a própria ciência moderna, figurando no cerne da disputa de Galileu com a Igreja cató- lica e o establishment acadêmico. Fica patente ao longo do artigo a enorme importância de Galileu como um dos pensadores que mais contribuíram para o processo de desen- cantamento do mundo e para o estabelecimento da concepção da ciência livre de valo- res. Como dizem Lacey e Mariconda: O símbolo de Galileu no conflito com a Igreja nutriu a

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