Aurora - Uma verdade inconveniente

O trágico episódio ocorrido em Aurora (Colorado, EUA) na estréia do filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, em que o estudante de medicina James Holmes atirou contra uma platéia de cinema matando doze pessoas e ferindo muitas outras, trouxe à tona a antiga polêmica de que um filme pode ser responsável por atos de violência. Entretanto, uma análise mais profunda, claramente revelará que as raízes da violência nos Estados Unidos estão profundamente arraigadas na cultura nacional.

Se a teoria de que um filme pode induzir atos de violência é válida, como explicar a inexistência de assassinatos em massa diante de filmes muito mais violentos como “Kill Bill” e “Assassinos por natureza”? Mais ainda, se um filme tem realmente tamanho poder de sugestão, não poderíamos simplesmente resolver o problema da violência, parafraseando o antropólogo Paulo Ribeiro, submetendo as pessoas a horas de audiência de “A Noviça Rebelde”?

Entretanto, a principal falha da “teoria do filme gerador de violência” é que esta desconsidera o fato científico de que não se pode forçar uma pessoa a praticar um ato contrário à sua natureza, mesmo num cenário de hipnose profunda. Se acrescentarmos a isso o fato que a arte, em geral, caracteriza um perfil da sociedade para a qual é produzida, veremos que as causas da violência nos EUA está em aspectos de sua cultura, conforme retratado no documentário “Tiros em Columbine”, de Michael Moore (2002).

Segundo Moore, a sociedade americana é dominada pelo medo (de todo tipo), facilmente manipulável e firmemente convicta de que a solução é eliminar literalmente (matar) aquilo que os amedronta, sejam problemas reais ou imaginários. Se acrescentarmos a estes fatores a pressão pelo reconhecimento social a qualquer preço e a facilidade de acesso a armas e munições, teremos as condições ideais para muitos episódios como o de Aurora ou Columbine.

Portanto, o massacre de Aurora é apenas um reflexo de um terrível descompasso psicológico