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O ATO PSICANALÍTICO E A MEDICINA DO CORPO
Abram Eksterman∗
I
A Psicanálise e a Medicina nunca se entenderam. O objetivo deste trabalho é contribuir com algumas reflexões para esse entendimento. Considero indispensável esse entendimento, tanto para a Psicanálise quanto para a prática médica em geral. Antes de mais nada vamos esmiuçar um pouco a afirmação de abertura: a Psicanálise e a Medicina nunca se entenderam. É desconcertante que assim seja, lembrando que o criador do método psicanalítico, bem como das teorias originais sobre a dinâmica mental, Sigmund
Freud, era médico e livre - docente de Medicina da Universidade de Viena. Fundou suas hipóteses sobre o tratamento das neuroses em sólidas bases hipocráticas. Teve o mérito de descrever minuciosamente quadros clínicos, construir a fisiopatologia explicativa desses quadros, estabelecer hipóteses etiológicas bem fundamentadas em achados clínicos e desenvolver um método terapêutico considerado eficaz. Nada melhor para um médico. Poderia ter ganho o Nobel de Medicina!
Ganhou o prêmio Goethe em Literatura. Efetivamente um prêmio de consolação para quem, afinal, revolucionou a prática psiquiátrica, senão toda prática médica. Sem dúvida sua obra é digna de um prêmio literário, mas não deixa de ser irônico na História da Medicina conferir às descobertas da Psicanálise um prêmio literário, mesmo desse porte.
Como pôde isso acontecer? Não dá mais para acreditar que Freud escandalizou a sociedade vitoriana da época com suas hipóteses etiológicas de traumas ou fantasias sexuais. A sociedade da época nem era mais vitoriana, nem Freud era um sexólogo fanático. Ao contrário, muitas hipóteses freudianas recendem à ingenuidade, como às relativas à sexualidade feminina, ou aquelas que descrevem um período de latência, entre o final do período fálico e a pré-puberdade. Aliás, Freud nem descrevia a rigor práticas sexuais, mas a trajetória de processos mentais que utilizavam o impulso sexual como pretexto

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