As Quatro Idéias Capitais dos Presos

Português II (Literatura), professor Carlos Eugênio
Atividade para a ADP: tarefa sobre a obra “A alma encantadora das ruas”, de João do Rio.
Aluno:_____________________________________nº ___ turma:_______ data: ____________

As Quatro Idéias Capitais dos Presos

1. Às vezes, numa volta pelo pátio, a conversar com Obed Cardoso, eu via o elegante Dr. Saturnino de Matos passar, como se fosse dar milho às pombas. E, se depois de admirar o Dr. Saturnino apontavam-me, enfiado no zuarte1 do estabelecimento, com o número de metal à cinta, um modesto gatuno2 ou um simples assassino cujo comportamento exemplar os transformava em serventes, eu deixava o gentil Obed e gozava o calão3 dessas interessantes flores de patifaria4.
2. Há na detenção reincidentes5 exemplares e casos de psicologia curiosíssimos. O Sargento da Meia-Noite, ladrão temível, uma espécie de transformista da infâmia, é passar os umbrais6 do jardim onde descansa o crime, para se tornar um cordeiro artista, uma espécie de frade7 medievo8. Recolhido ao cubículo, inaugura logo a sua arte de miolo de pão. Faz flores, bonecos, santos, animais; pinta-os, remira-os, manda-os vender. Parece regenerado. Todos sabem, entretanto, que, uma vez livre, o Sargento não resistira à tentação de invadir a casa alheia. Os “punguistas”9, inofensivos lá dentro, tão certos estão de continuar a roubar que o Braga Bexiga me dizia:
3. — No dia em que sair, tomo logo um bonde e limpo10 a primeira carteira.
4. — Mas é difícil.
5. — Para quem conhece a arte não há dificuldades. Eu trabalho desde criança e tive como professor o Zezinho.
6. — Vamos a ver esse trabalho.
7. — Se V. Sa. me dá licença, eu vou tirar duas notas de duzentos que o sr. Obed pôs agora no bolso da calça.
8. Na outra extremidade da sala, Obed, sem que ninguém desse por isso, acabara de contar o seu dinheiro e de metê-lo no bolso da calça. Bexiga, trêmulo, com os olhinhos piscos, continuava ali a exercitar as suas criminosas observações. Capoeiras,