Artigo P Leitura E S Ntese Sa De E Antropologia
Saúde e antropologia: contribuições à interpretação da condição humana em ciências da saúde *
Tullio Seppilli1
Introdução
A fundação teórico-empírica da antropologia parece marcada por uma questão crucial que atravessa sua história e as ciências humanas como um todo, com heterogêneas e relevantes consequências em seus horizontes de referência, linhas de fundo, metodologias investigativas, modelos interpretativos, diretrizes próprias de pesquisa, além dos efeitos e uso social de seus resultados. Esta questão, como foi sendo “resolvida”, pesou fortemente sobre fenômenos humanos de grande expressão social, legitimando ou contrastando, por exemplo, racismo, colonialismo ou “exclusão” feminina, incidindo sobre atitudes ante o desvio ou a diversidade, influenciando o próprio paradigma de nossa medicina oficial. Especialmente neste terreno, as ciências humanas implicam diretamente algumas das mais relevantes expressões das dinâmicas de hegemonia e de poder, tornando-se provavelmente as
“menos neutras” no panorama de contribuição das ciências à medicina ou saúde.
Questão crucial das ciências humanas, seu núcleo duro (um debate ainda vivo), sintética e inapropriadamente definida como a questão do relacionamento entre natureza e história. Tentarei, aqui, uma formulação mais atual, deixando em aberto questões ineludíveis para efetivas interpretações da condição humana, tendo em vista contribuir com a ciência na saúde.
Quanto e como pesa, no comportamento dos indivíduos, a sua natureza biológica? Quanto e como pesam as suas experiências e o seu viver em um determinado contexto histórico-social? Quanto e como a disposição, o funcionamento e o devir histórico de uma sociedade dependem da sua própria lógica global, mesmo além da natureza biológica dos próprios indivíduos que a compõem, das “necessidades naturais” desses indivíduos e de seu estágio evolutivo no processo de hominização?
Se aquilo que diversifica as várias civilizações deriva da heterogeneidade dos
seus