Aristóteles

A discussão sobre ação afirmativa pode auxiliar na compreensão da noção de finalidade. Qual o propósito de uma universidade? Alguns afirmam que ela existe para a excelência acadêmica, outros que elas também contribuem para determinados fins cívicos, colaborando para um sociedade diversificada. Então, quais virtudes a universidade deve valorizar? Há os que pensam que apenas a capacidade de aprendizagem e produção de conhecimento, porém quem afirma que elas têm fins cívicos, por certo, verão as universidades como espaço público de superação de discriminações e, por conseguinte, como lugar de ações afirmativas. E se essas duas visões se apresentam em contradição? Como decidir entre elas?

Essa discussão é parte da compreensão do papel da política na vida humana. Para Aristóteles, justiça distributiva tem que ver mais que com distribuição de renda, é relativa à distribuição de honrarias e cargos, também. Quem deveria governar? No liberalismo moderno se pensa, um indivíduo, um voto. Porém, para Aristóteles poderia haver discriminações apropriadas à melhor opção para um bom governo. E para que serve uma associação política? Assim a flauta possui uma finalidade, a política também possui. Para nós, modernos, atribuir uma finalidade à associação política anterior à deliberação dos cidadãos pareceria absurdo. Política é um procedimento de ação individual. Para

Aristóteles, a política tem que ver com a vida na cidade e a melhoria da vida na cidade: formar bons cidadãos e cultivar o bom caráter. Nesse ponto, Sandel cita Aristóteles (Política, Livro III, 1280b):
Qualquer polis que mereça ser assim chamada deve dedicar-se ao propósito de promover a bondade. Caso contrário, uma associação política reduzir-se-á a uma mera aliança [...] Caso contrário, também a lei será transformada em um mero pacto [...] uma garantia do direito dos homens contra seus semelhantes – em vez de ser, como deveria, uma regra de vida para tornar seus membros bons e justos.

A sequência da