Análise: música e linguagem
por Fernando Hardman
O impulso inicial, a partir da proposta* dos professores Anicézia Romanhol (Produção de Texto I) e Alex Martoni (Lírica: Música e Poesia), foi o de produzir a resenha sobre uma música instrumental, comentando os conteúdos sígnicos provindos dos elementos musicais de tensão e relaxamento, utilização de pausas e dissonâncias, análise de timbres e mudanças rítmicas, considerando-os como os elementos de semiose que passam ao ouvinte a intenção do autor. Músicas como “O Trenzinho do Caipira”, de Villa-Lobos (originalmente instrumental, posteriormente recebeu letra feita por Ferreira Gullar), e “Last Train Home” de Pat Metheny (na qual há uma vocalização), seriam instigantes, mais ainda por permitirem uma análise comparativa dos efeitos utilizados para a obtenção da experiência do trem em movimento, e das diferentes intenções de ambos os “trens”. Mas por tratar-se de um Curso de Letras, e não especificamente de música, houve a necessidade de utilizar um texto musical contendo discurso verbal, e optou-se por comentar uma canção, com base principalmente nos estudos semióticos de Luiz Tatit, e sua abordagem da letra não como poesia, mas como composição integrada ao conteúdo musical da canção, bem como dos efeitos musicais em simbiose com o texto, e não de duas unidades distintas, linguagem verbal – linguagem musical. Ainda assim, as duas formas de significação, letra e música, não foram totalmente amalgamadas e consideradas como uma unidade, o que também demandaria um estudo teórico mais aprofundado, e um período de tempo compatível com a ambição razoavelmente inovadora dessa abordagem. Cabe ressaltar a carência de estudos poético-musicais voltados à análise estilística da canção brasileira, lacuna louvavelmente ocupada pelas exceções que são os trabalhos de José Miguel Wisnick, a crítica de José Ramos Tinhorão, e a pesquisa do já citado Luiz Tatit. A canção escolhida