Análise do poema III do Guardador de Rebanhos

III

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Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas pessoas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos…
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem não anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros…

Neste poema Alberto Caeiro faz uma homenagem a Cesário Verde, dizendo-nos que lê o seu livro até lhe arderem os olhos, ou seja, até não poder mais. Para quem não sabe, o
Livro de Cesário Verde foi publicado por um amigo do Cesário e não pelo próprio. Este livro está dividido em duas partes, uma primeira parte e uma segunda, que contem os poemas “Naturais”, contem os poemas que se baseiam na realidade quotidiana, onde o poeta se manifesta já na plena posse da técnica realista.
Ambos os poetas são apaixonados pelo campo mas enquanto Caeiro vive no campo,
Cesário verde encontra-se na cidade, sendo por isso um “camponês que andava preso em liberdade pela cidade”. Encontramos aqui um oximoro que contrasta a liberdade e a falta dela. Encontramos aqui uma síntese dos dois polos encontrados na poesia de
Cesário, o campo e a cidade. Mas enquanto a cidade o enjoa, o aprisiona, o campo deleita-o e é símbolo de liberdade.
Por isso Alberto Caeiro diz-nos que tem pena dele, pelo facto de Cesário Verde estar
“preso”, entre aspas, ser um camponês na cidade, ter grande tristeza e andar na cidade como quem anda no campo, a olhar para os elementos citadinos como quem olha para os elementos do campo como