Análise crítica do romance Bonsai: O lugar do narrador na contemporaneidade.

1076 palavras 5 páginas
Análise crítica do romance Bonsai: O lugar do narrador na contemporaneidade.

O romance Bonsai, de Alejandro Zambra, constrói a metáfora poética de uma relação aludindo a um bonsai – uma árvore que é mantida sob rígido controle em que, em vez de crescer e dar frutos, acaba por se atrofiar, já que lhe é imposta os limites dimensionais do vaso em que esta plantada. Nesse sentido, a narrativa do poeta chileno, é direta, sem enrolação. Seu narrador é seco, não faz firulas e não se perde com detalhes insignificantes. É uma narrativa enxuta, assim como na jardinagem, o autor poda as partes desnecessárias mostrando somente o que interessa. Deste modo, transforma a questão da escala em uma metalinguagem, constantemente reinterada no romance:

Ambos sabiam que, como se diz, o final estava escrito, o final deles, dos jovens tristes que leem romances juntos, que acordam com livros perdidos entre cobertas, que fumam muita maconha e ouvem canções que não são as mesmas que preferem individualmente (…). A fantasia dos dois era ao menos terminar Proust, esticar a corda por sete volumes, e que a última palavra (a palavra “tempo”) fosse também a última prevista entre eles. Ficaram lendo juntos, lamentavelmente, pouco mais de um mês, cerca de dez páginas por dia. Pararam na página 373, e o livro, desde então, ficou aberto. (p.38).

Este formato reduzido está na forma como ele leva a história, desde o primeiro parágrafo já é dito ao leitor o que acontece com as personagens no fim do livro:

No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse ficado sozinho antes da morte dela, de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, se chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, ela morre e Julio não morre. O resto é literatura.

Essa revelação não tira a beleza do texto; é aí que se enquadra a citação de Proust, não é só porque já sabemos o final de algo que podemos mudá-lo, aliás, essa quebra de expectativa

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