Antologia Poética
Cristiana Antunes Pereira
Nº14/ 10ºct2
Inverno
Sofri uma metamorfose.
Larguei a pele de boa pessoa.
Agora, sou quase nada.
Tornei-me num inverno frio,
Chuvoso e triste.
Sou um inverno infeliz.
Sou um inverno catastrófico e perdido,
Perdido dentro de si,
Que anda ás voltas dentro de si,
Que não se encontra.
Sou um inverno perdido.
Sou um inverno desconhecido.
Ninguém me quer conhecer,
Embora toda a gente me sinta.
Toda a gente me sente mas eu não sinto ninguém.
Não tenho coração.
Habituei-me á solidão.
Sou um inverno solitário e insensível.
Sou um inverno imprevisível.
Sou um inverno bipolar.
Sou frio mas não sinto frio.
Eu provoco o frio e obrigo os outros
A viverem no meu frio.
Sou um mau inverno.
Sou para sempre inverno.
Um inverno que mal sabe ser inverno,
Um inverno que nem sabe o que é ser inverno,
Um inverno que não sabe o que é.
Um inverno desolado.
Sou um inverno acompanhado
De flocos de neve quente,
Que faz arrepiar toda a gente.
Sou um inverno que de nada quer saber.
Eu, sou o inverno preocupado por se despreocupar.
Eu, sou o inverno ao qual corre sangue frio nas veias.
Eu, sou o inverno que não se sabe explicar.
Eu, sou o inverno preso nas suas teias.
Eu não sou ninguém, sou só o inverno.
Dias, Joana, 2014. (Amiga)
O nosso mundo é este
O nosso mundo é este
Vil suado
Dos dedos dos homens
Sujos de morte.
Um mundo forrado
De pele de mãos
Com pedras roídas das nossas sombras.
Um mundo lodoso
Do suor dos outros
E sangue nos ecos
Colado aos passos…
Um mundo tocado
Dos nossos olhos
A chorarem musgo
De lágrimas podres…
Um mundo de cárceres
Com grades de súplica
E o vento a soprar
Nos muros de gritos.
Um mundo de látegos
E vielas negras
Com braços de fome
A saírem das pedras…
O nosso mundo é este
Suado de morte
E não o das árvores
Floridas de