Angola
(1987), DE UNGULANI BA KA KHOSA.
HISTORICAL AND ORAL REPRESENTATIONS OF NGUNGUNHANE IN UALALAPI (1987), BY
UNGULANI BA KA KHOSA
Denise Rocha1
RESUMO: A finalidade do artigo é contrapor os diversos aspectos da saga de Ngungunhane
(c. 1850-1906), o último rei de Gaza, protagonista de Ualalapi (1987) do moçambicano
Ungulani Ba Ka Khosa, durante seu violento reinado (1884-1895) que estava sendo desafiado pelos portugueses, aflitos com o interesse geoestratégico da Grã-Bretanha. O artigo se justifica, pois Ungulani escreveu o romance para questionar a ideologia do governo da
FRELIMO que tentou unificar o país em torno da representação mítica do rei (1985) o qual foi subjugado pelos portugueses e morreu no exílio, nos Açores, esquecendo-se que ele era um invasor das terras no sul de Moçambique. No artigo baseado na teoria da “metaficção historiográfica” (Hutcheon) e da imagem (Burke) se conclui que, no contexto pós-colonial de
Moçambique um texto literário, como Ualalapi, pode servir de referencial para a reflexão crítica sobre o processo de construção de um herói efetivado pelo governo de Machel.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura moçambicana. Ualalapi. Metaficção historiográfica e imagem. INTRODUÇÃO
No dia 15 de julho de 1985, durante as celebrações do 10. aniversário da independência de Moçambique, a urna de madeira adornada com baixo relevo que continha os restos mortais de Ngungunhane (c. 1850-1906), o último imperador nguni de Gaza, região localizada no sul do país, foi entregue ao presidente Samora Machel (MORENO, 2010, p.
135) em uma cerimônia solene para honrar a memória do herói nacional, que resistiu bravamente até sua captura (1895) ao processo de expansão do colonialismo português.
Da ilha Terceira dos Açores, local do exílio perpétuo do régulo nguni, passando por
Lisboa e chegando em Maputo, a trajetória dos restos mortais de Ngungunhane adquiriu uma dimensão mítica, alicerçada em um projeto de