Aluna

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Texto: I
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra”, escreveu o poeta inglês John Donne no século 17. Como Descartes (“penso, logo existo”) teve seu contraponto em Nietzsche (“existo, logo penso”), Donne teve o seu em José Saramago: “Todo o homem é uma ilha”. Fiquei pensando nessas visões nos intervalos entre as sessões de surfe na indescritível ilha de Fernando de Noronha. Impossível não ficar reflexivo vendo a rotina pacata dos ilhéus e dos turistas. Noronha, por ser uma ilha pequena, é um excelente laboratório para pensar em nossa interação com o meio ambiente. Nos 17 km2, vivem cerca de 3 500 moradores e uma população flutuante que não passa de 700 turistas. No início deste ano, a ilha teve um problema: excesso de lixo gerado pela população. Não existe aterro sanitário, assim tudo precisa ser levado para o continente. Creio que, em poucas décadas, olharemos com vergonha para o jeito como tratamos os resíduos hoje. Na maior cidade do Brasil, São Paulo, reciclamos menos de 1% do lixo gerado. Encaramos o planeta como uma lata de lixo gigante, como disse o economista Hugo Penteado no TEDxAmazônia. Vivemos como se não houvesse limites. Porém, sempre que queremos sair deles, temos que empenhar uma incrível quantidade de tempo e energia, como nas viagens espaciais. O bônus foi valioso, pois conseguimos enxergar a fragilidade do ponto azul flutuando no espaço. Numa ilha pequena, isso é muito mais fácil. Bastam 10 minutos de deslocamento de bugue na estrada vazia para chegar ao fim. Quem vive ali sabe que se não cuidar vai pagar o preço. Não por acaso, compostagem e reciclagem são assuntos cada vez mais recorrentes no dia a dia da ilha. Sabendo o tamanho do limite, é mais fácil viver. “O tempo não para”, diz o relógio na parede, mirando o extremo leste da ilha. Ao contrário do tempo, o espaço em que vivemos tem limite. Enxergá-lo é um exercício de autoconhecimento poderoso, como disse o genial