Almada cena do odio

4439 palavras 18 páginas
ALMADA NEGREIROS -CENA DO ÓDIO” 1915

POETA SENSACIONISTA E NARCISO DO EGYPTO
Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis, 

Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado, 
 e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu! 

Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés! 

O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes, 

Inferno a arder o Meu Cantar! 

Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes 
dos cossácos! Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula! 

Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta! 

Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol! 


Ladram-Me a Vida por vivê-La 
 e só Me deram Uma! 

Hão-de lati-La por sina! 

Agora quero vivê-La! Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina 

Hei-de Glória desanuviá-La! 

Hei-de Guindaste içá-La Esfinge 
 da Vala pedestre onde Me querem rir! 

Hei-de trovão-clarim levá-La Luz 
 às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas! 

Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia 
 nos Funerais de Mim! 

Hei-de Alfange-Mahoma 
 cantar Sodoma na Voz de Nero! 

Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre, 
 hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido... 

Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu, 
 cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu! 


Sou Narciso do Meu Ódio! 

— O Meu ódio é Lanterna de Diógenes, 
 é cegueira de Diógenes, 
 é cegueira da Lanterna! 

(O Meu Ódio tem tronos d' Herodes, histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!) 

O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só 
Dilúvio Universal! 
 e mais Universal ainda: 

Sempre a crescer, sempre a subir... 
 até apagar o Sol! 


Sou trono de Abandono, mal-fadado, 
 nas iras dos Bárbaros meus Avós. 

Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina 
 gemidos vencidos de fracos, 
 ruídos famintos de saque, 
 ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga! 

Sou ruínas rasas, inocentes 
 como as asas de rapinas afogadas. 

Sou relíquias de mártires impotentes 
 sequestradas em antros do Vício. 

Sou clausura de Santa professa, 

Mãe exilada do Mal,

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