Almada cena do odio
POETA SENSACIONISTA E NARCISO DO EGYPTO
Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis,
Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado, e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu!
Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés!
O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes,
Inferno a arder o Meu Cantar!
Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes dos cossácos! Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula!
Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta!
Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol!
Ladram-Me a Vida por vivê-La e só Me deram Uma!
Hão-de lati-La por sina!
Agora quero vivê-La! Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina
Hei-de Glória desanuviá-La!
Hei-de Guindaste içá-La Esfinge da Vala pedestre onde Me querem rir!
Hei-de trovão-clarim levá-La Luz às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas!
Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia nos Funerais de Mim!
Hei-de Alfange-Mahoma cantar Sodoma na Voz de Nero!
Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre, hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido...
Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu, cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu!
Sou Narciso do Meu Ódio!
— O Meu ódio é Lanterna de Diógenes, é cegueira de Diógenes, é cegueira da Lanterna!
(O Meu Ódio tem tronos d' Herodes, histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!)
O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só Dilúvio Universal! e mais Universal ainda:
Sempre a crescer, sempre a subir... até apagar o Sol!
Sou trono de Abandono, mal-fadado, nas iras dos Bárbaros meus Avós.
Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina gemidos vencidos de fracos, ruídos famintos de saque, ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga!
Sou ruínas rasas, inocentes como as asas de rapinas afogadas.
Sou relíquias de mártires impotentes sequestradas em antros do Vício.
Sou clausura de Santa professa,
Mãe exilada do Mal,