Alguma Poesia 3
I. Comentários críticos A poesia de Drummond pode ser abordada a partir da dialética “eu x mundo”: 1. Eu maior que o mundo – marcada pela poesia irônica. O poeta vê os conflitos de uma posição de eqüidistância e não-envolvimento: daí o humor, os poemas-piada e a ironia. O poeta fotografa a província, a família. É sarcástico, de uma irreverência incontida, mas de um sentimento contido, o que vem a produzir um texto objetivo, seco, versos curtos e descarnados, sem transbordamento emocional. É o que ocorre em Alguma Poesia e Brejo das Almas. 2. Eu menor que o mundo – marcada pela poesia social, tomando como temas a política, a guerra e o sofrimento do homem. Desabrocha o sentimento do mundo, marcado pela solidão, pela impotência do homem, diante de um mundo frio e mecânico, que o reduz a objeto. É o que ocorre em Sentimento do Mundo, José e especialmente em A Rosa do Povo. Os poemas Mãos Dadas, Os Ombros Suportam o Mundo e Confidência do Itabirano também incluem-se nessa fase. 3. Eu igual ao mundo – abrange a poesia metafísica, de Claro Enigma onde a escavação do real, mediante um processo de interrogações e negações, conduz ao vazio que espreita o homem e ao desencanto, e a “poesia objetual”, de Lição de Coisas, onde a palavra se faz coisa, objeto,, e é pesquisada, trabalhada, desintegrada e refundida no espaço da página. II. A Obra
Como se sabe, Alguma Poesia (1930), o primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, marca o início da segunda fase do Modernismo brasileiro, continuando as experiências da geração anterior, sobretudo de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
Os aspectos mais evidentes da herança modernista em Alguma Poesia são o versilibrismo, a orali-dade, o prosaísmo, a supressão da pontuação convencional, a paródia, o humor, a linguagem telegráfica, a justaposição de frases nominais, a visão prismática do cotidiano: a cidade grande, a província, a