Alcool

ÁLCOOL: O ABUSO COMO DOENÇA SOCIAL Maria Tereza Carvalho

Psicólogo: Como anda sua vida social?
Paciente: Eu não saio mais desde que parei de beber e comecei a tomar remédio.
Psi: Não dá pra sair sem beber?
Pa: E o que eu vou ficar fazendo num bar?
Psi: Conversando, interagindo.
Pa: Sóbrio? Com um monte de gente bêbada?
Psi: Será que você não pode mesmo beber com o remédio? Nem um pouquinho? Afinal, você está se tratando. Talvez você possa beber um pouquinho nos finais de semana. Pergunte ao seu Dr. Psiquiatra. A vida social é fundamental para sua recuperação! Para tudo!

O diálogo acima não é fictício, e com certeza é banal. Naturalmente não seria ético revelar a identidade dos envolvidos. Basta dizer que ele me foi relatado pelo próprio paciente, alcoólatra e depressivo, inconformado com a sugestão de seu psicólogo. O paciente abandonou o tratamento (tanto o psicológico como o medicamentoso), buscou refúgio nos AA (Alcoólicos Anônimos) e não voltou a beber. Também resolveu a sua depressão.
Num artigo publicado há tempos na Folha de São Paulo, o médico Drauzio Varella dizia que o sucesso dos AA no tratamento do alcoolismo era uma grande humilhação para a medicina. Eis aí uma doença para a qual a medicina não tem um remédio efetivo. E um grupo de autoajuda constituído por doentes em sua maioria leigos detém as mais significativas taxas de recuperação. Mas Varella acaricia a esperança de que a medicina, algum dia, consiga enfim triunfar sobre os AA, criando um remédio que permita ao alcoólatra enfim realizar seu sonho: beber com moderação. Enquanto não chega a hora de voltar ao nosso querido chopp, podemos nos perguntar: por que será que as taxas de recuperação do alcoolismo dos AA superam em muito as da medicina? Este artigo não tem qualquer pretensão científica. Não passa de reflexão em grande parte embasada em vivência e intuição, quase sem apoio de bibliografia. Se lograrmos lançar alguma luz inédita (ou esquecida) sobre