ADJÁ: ESCRITA CONTRADISCURSIVA NA LITERATURA-QUILOMBO

ADJÁ: ESCRITA CONTRADISCURSIVA NA LITERATURA-QUILOMBO
Jaciara Santos Nascimento *
Jucilene Ferreira Cerqueira **
Resumo: O recurso da alegoria é fundamental para a configuração de uma literatura que, neste trabalho, é compreendida como adjá, instrumento que evoca os orixás à terra. A partir da análise de Batuque de Tocaia de Cuti e do CD Em primeira mão do grupo Simples Rap’ortagem, obras que tematizam de forma singular a ancestralidade, identidade e condição social afro-étnica, discutiremos o papel da escrita como quilombo pós-moderno (FREITAS, Henrique) que permite o deslocamento do sujeito negro de um espaço de conformidade para “incorporação” de uma postura crítica diante dos processos históricos de subalternização étnica. Para a realização deste trabalho utilizaremos as discussões de Florentina Souza e Luís Henrique Silva de Oliveira.
Palavras-chave: Literatura Negra. Hip-hop. Adjá. Literatura-quilombo.
Da favela, da humilhação imposta pela cor,
Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.
(Maya Angelou)

As obras Batuque de tocaia de Luiz Silva e Em primeira mão do grupo Simples
Rap’ortagem são escritas alegóricas exatamente no sentido em que postula Walter
Benjamin quando afirma que “a alegoria, enquanto escrita, é entendida como um sistema convencional de signos. Expressa algo que é diferente, que é o outro daquilo que apresenta”. A poesia dos referidos trabalhos é compreendida como um lugar de resistência a um modelo canônico de subalternidade social e de ressignificação da condição do negro à luz de questões identitárias. O símbolo do Adjá é compreendido como uma