adam smith a riqueza das nações

O esporte como fim em si próprio é só a materialização da desprezível política do pão e circo, uma triste realidade que o mesquinho e cômodo mundo contemporâneo não pensa em alterar (basta pensar em quem são os ídolos atuais), mas que histórias de superação como a vista em 42 – A história de uma lenda derrubam enquanto devolvem à prática o nobre papel de inspirar, unir a despeito das diferenças e ainda arrancar algumas lágrimas. Para fazê-lo, no entanto, o diretor e roteirista Brian Helgeland recorre a alguns truques batidos (a trilha sonora edificante é apenas um deles) e manipula descaradamente o espectador que, embora ciente disto, ignora os mecanismos graças à força da história do primeiro jogador negro da liga principal do basebol: Jackie Robinson.
Assim, a narrativa regressa ao período pós 2ª-guerra mundial quando a prosperidade geopolítica norte-americana era maculada pela segregação racial presente sobretudo nos esportes. Este panorama só começou a sofrer sensíveis modificações depois do empresário Branch Rickey (Harrison Ford, com corcunda e barriga salientes e sobrancelhas grossas), através da desculpa de que “o dólar não é branco ou preto, mas verde” e usando astutamente a Bíblia como instrumento de convencimento nos bastidores, inscrever o talentoso mas temperamental Jackie (Chadwick Boseman) na primeira divisão do beisebol com uma única recomendação: não deixar ninguém irritá-lo a ponto de comprometer a tentativa de abolição da mentalidade anacrônica e discriminatória do período. A partir daí, Brian Helgeland aposta no desenvolvimento quadrado, seguro e maniqueísta em que a maioria dos brancos discrimina e humilha o protagonista negro, e aqueles que não o fazem sofrem as represálias correspondentes à cor da pele.
Entretanto, não há nada errado em provocar e indignar o público com mais um herói vítima da opressão, sobretudo por que a atuação competente de Chadwick Boseman exige reconhecimento em vez de compaixão, o que é refletido ainda na maioria