Abdicação de Fernando Pessoa
André Abreu
N.º3 12.ºAno
2014/2015
A
B
D
I
C
A
Ç
Ã
O
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços. Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa, — eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços. Minha cota de malha, tão inútil
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria. Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Escolha do Tema
Escolhi
este soneto porque achei interessante o título “Abdicação”. Quem abdica é o rei e o sujeito poético compara-se com o rei que invoca a “noite eterna” e lhe pede que a tome nos seus braços.
Deste modo, o sujeito poético abdica da vida e procura abrigo na morte.
Interpretação
Como disse, neste poema, o sujeito poético é um
Rei velho e cansado que desiste e já não tem ânimo para lutar, para resistir. Abdica voluntariamente do seu cargo porque já não se sente capaz de continuar.
Nos dois primeiros versos (“Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços / E chama-me teu filho” V. 1-2), a “noite eterna” é um eufemismo significa a morte.
Interpretação
Na segunda estrofe, o rei entrega três dos objetos mais simbólicos: a espada, o cetro e a coroa. A espada simboliza a vitória sobre os inimigos e simultaneamente a justiça punitiva. O cetro simboliza o estado e a justiça e a coroa foi sempre associada a alguém que possui poder e legitimidade sendo assim alguém imortal que permanecerá na mente da humanidade para todo o sempre. O monarca desprende-se do materialismo e cede ao fracasso dos sonhos que nunca se realizaram.
Interpretação
Na última estrofe o rei já não tem mais nada
(“Despi a realeza, corpo e alma” V.13) e o que lhe resta é a solidão, o isolamento e a melancolia (sentimentos similares ao estado de espírito do sujeito