A08v10n2

8646 palavras 35 páginas
Desenvolvimento, Conflitos Sociais e Violência no Brasil Rural: o caso das usinas hidrelétricas*
Andréa Zhouri1
Raquel Oliveira1
1 Introdução
O estabelecimento de valores econômicos exige a desvalorização de todas as outras formas de vida social. Essa desvalorização transforma em um passe de mágica, habilidades em carências, bens públicos em recursos, homens e mulheres em trabalho que se compra e vende como um bem qualquer, tradições em fardo, sabedoria em ignorância, autonomia em dependência (ESTEVA, 1992, p. 18).

A mundialização, entendida como uma nova configuração dos mecanismos de acumulação do capital a partir de processos concomitantes de descentralização das operações produtivas e centralização do capital (CHESNAIS, 1996), resulta não só na
“re-localização” dos investimentos e atividades produtivas, mas na “polarização da riqueza”.
Assim, longe de produzir um cenário de integração entre as diversas regiões do globo, a lógica seletiva do capital atinge de maneira distinta determinadas regiões e camadas sociais, resultando numa distribuição desigual dos impactos e riscos decorrentes das atividades produtivas (­CHESNAIS; SERFATI, 2003). A partir de diversos instrumentos políticos, o capital demonstra sua eficácia quanto à transferência do ônus das degradações para os países e classes mais vulneráveis, de forma que os efeitos da(s) crise(s) ecológica(s) atingem

*Este texto é resultado de pesquisas realizadas entre os anos de 2002 e 2006 junto às comunidades rurais atingidas por barragens hidrelétricas no âmbito do licenciamento ambiental em Minas Gerais. Agradecemos o apoio recebido da fapemig e do CNPq durante a realização da pesquisa sobre o licenciamento ambiental de barragens hidrelétricas em
Minas Gerais.
1

Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – GESTA,UFMG.

Autor para correspondência: Andréa Zhouri, Raquel Oliveira, Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – ­GESTA,
Departamento de Sociologia e Antropologia, FAFICH- UFMG, Campus Pampulha, Av.

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