A_Vergonha_do_Carrasco

V- A VERGONHA DO CARRASCO

“(...) quando me encontro no calor da luta
Ostento aguda empunhadora proa
Mas o meu peito se desabota.
E, se a sentença se anuncia bruta,
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa.”
Chico Buarque e Ruy Guerra, Fado Tropical

Os versos do poeta1 dizem de forma expressiva um argumento que desenvolvi de forma prosaica no capítulo precedente, e ao qual gostaria de voltar neste breve capítulo final. Há vários motivos – utilitaristas, uns emocionais, outros – para se ser contra a pena de morte. Mas há também motivos para se ser a favor. Na prática, como vimos, ela é arbitrária, discriminatória e, sobretudo, cruel. Nada disso, entretanto, é capaz de fazer desaparecer a dor de alguém que teve um ente querido morto por um bandido em circunstâncias atrozes. O seu desejo de vingança é natural e legítimo.
Curiosamente, não são todas as pessoas que tem um algoz. As pessoas, mesmo num caso-limite desse tipo, não reagem de mesma maneira aos mesmos acontecimentos. De um lado, há pessoas como Vernon Harvey, que lutou implacavelmente para que o Estado da Louisiana obtivesse o direito de julgar e condenar Willie, o estuprador e assassino de sua enteada, e que na madrugada de sua execução na cadeira elétrica festeja sua morte do lado de fora da prisão dizendo aos jornalistas: “Willie morreu muito rápido. Tudo bem. Que ele queime no fogo do inferno por toda a eternidade!” (Prejean, p. 260). E há pessoas como Lloyd Le Blanc, pai de um rapaz morto juntamente com sua namorada - esta, depois de ter sido estuprada – por um dos assistidos de irmã Prejean, que vai assistir AA sua execução na esperança de que o assassino lhe peça perdão no último instante de vida. Ele pede, e Le Blanc confessa à freira que a prisão perpétua teria bastado. Esse simpático personagem, com o nome de Delacroix, figura no filme Os Últimos Passos de um Homem. É ao lado dele que a Irmã Prejean reza delicada cena final. Mesmo neste caso, entretanto, ainda que