885379 O Mito

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O mito

A literatura conhece uma infinidade de expressões mitológicas, colhidas entre as mais diversas culturas. As histórias que elas narram vão desde relatos das origens do cosmos (cosmogonias) até sua suposta destruição. A linguagem mitológica procura dar explicações, pouco razoáveis para o homem da ciência e da técnica, para todas as coisas: criação do mundo, situações-limite da vida humana (como a dor, o sofrimento, a morte...), sentimentos (amor, paixão, ódio...) questões religiosas, etc... Postula-se, hoje, pela legitimidade do mito, enquanto possuidor de certa racionalidade. O que habitualmente era tido como fantasia ou invenção carente de sentido, hoje encontra seu lugar de intérprete legítimo de épocas e povos. Muito colaborou para essa nova visão os estudos da antropologia cultural. O mito deixa transparecer a vida de uma comunidade. Ele reflete, sem a mediação do pensamento elaborado, o imediato da realidade. Talvez aqui resida a grande barreira para a sua decodificação. Ele carrega uma mensagem enviesada, não dita explicitamente, mas através de códigos e cifras. Fala bonito. Fala ilustrado, poetizado, dando vida ao imaginário, fazendo com que o real delire e o ideal ganhe vida. Compreender os mitos equivale a captar as manifestações do espírito humano, da cultura, do impulso de transcendência e não tomá-los como patologia ou coisa de criança. Mais do que explicá-los, o que jamais daremos conta de fazer, é preciso experimentar neles a sua gratuidade e espontaneidade. Aliás, a tentativa de explicar o mito já descaracteriza sua identidade. O discurso passaria de mitológico para filosófico ou científico. O mito é livre o bastante para não se deixar aprisionar ao discurso ou aos conceitos e subsiste ao “bisturi” da racionalidade. O caminho de acesso a ele passa pela emoção e pelo pensamento furtivo, como chama nossa atenção Everaldo rocha: “O mito não possui sólidos alicerces de definições. Não possui verdade eterna e é como uma construção que não

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