7_O niilismo de Merleau Ponty_pp.113-122

3941 palavras 16 páginas
O NIILISMO DE MERLEAU-PONTY
Isabel Clemente

1. Introdução
Para o pensamento racionalista o niilismo pode definir-se, grosso modo, como o esvaziamento do conceito, a assimilação do Ser ao Nada, sendo a negação absoluta o ponto de partida da reflexão. Embora a noção tenha sido introduzida por Jacobi, na crítica que faz a Fichte, Hegel reconhece-lhe a radicalidade no que se refere ao "começo" da actividade reflexiva, ao afirmar que "o que é primeiro, em filosofia, é, porém, reconhecer o nada absoluto .
Ao chamar de "niilista" um autor que pretende prosseguir a reflexão husserliana, o que temos em mente é a possível verificação, neste, de um processo similar, posto, agora, como referência, não o real, na sua irredutibilidade, mas o fenómeno. É a verificação de um progressivo esvaziamento das noções em que o fenómeno se fenomenaliza - sujeito, coisas - a partir da instância radical e primária em que se originam e a favor dessa instância.
Tendo como adquirido que a consciência, entendida como a relação objectivante de um sujeito a coisas para um sujeito, refere uma instância
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1 "Das Erste der Philosophie aber ist das absolute Nichts zu erkennen" Hegel, Glauben und Wissen, Ges. Werke, 4, 398.
Philosophica, Lisboa, 1 (1993)

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Isabel Clemente

segunda, suportada pelo fluxo da experiência perceptiva, esse sim originário, Merleau-Ponty remete-nos, no estudo a que submete a percepção, para uma praxis que a anonimidade e a generalidade irão caracterizar. A opção pontiana pelo acto perceptivo não repete a posição husserliana. Não se trata da síntese pré-reflexiva, cuja construtividade activa torna legítima a passagem do pré-reflexivo à reflexão.
É no sentido do aprofundamento ou radicalização da instância na qual todo o sentido tem a sua génese que, simultaneamente, se vão esvaziando do seu sentido filosófico tradicional as noções de sujeito, coisas e até mundo. 2. O sujeito anónimo. O "si"
A destituição do sujeito, o esvaziamento

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