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Vertentes & Interfaces I: Estudos Literários e Comparados
INUTILIA TRUNCAT: UMA LEITURA DO CONTO
“CIVILIZAÇÃO” DE EÇA DE QUEIRÓS
Alana de Oliveira Freitas El Fahl*
RESUMO:
O presente trabalho tem por objetivo empreender uma leitura do conto Civilização (1892) de Eça de Queirós.
Através da análise das mudanças ocorridas na biblioteca de seu protagonista Jacinto durante a narrativa, é possível perceber que o autor utiliza os títulos dos livros como estratégia textual que vai delineando a mudança ideológica de seu personagem. Como em outras obras do autor, a literatura passa a funcionar como uma personagem no conto eciano.
PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca. Civilização. Conto. Eça de Queirós.
1 Jacinto na civilização: a flor do pessimismo
Situada como uma das linhas de frente do Realismo português, a importante produção literária de Eça de Queirós (1845-1900) oferece ainda orientação à cultura e à literatura em língua portuguesa.
Tal condição representa um ponto pacífico entre os críticos, já que é notória a efetiva contribuição de
Eça na construção das bases ideológicas e estéticas da segunda metade do século XIX. Os seus romances sempre são citados, quando é necessário exemplificar as linhas mestras defendidas pelo período, tais como o desmascaramento dos vícios burgueses, o materialismo, o adultério, o anticlericalismo, ou a hipocrisia da sociedade, enfim, as falhas morais do homem português no final do século XIX.
Romances como O crime do Padre Amaro (1875), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888) se mostram como espelhos da burguesia lusitana, vista também como metonímia da humanidade; são narrativas nas quais o autor tece críticas ácidas contra a sociedade através das fragilidades de suas instituições basilares como a igreja, o casamento e a família.
Todavia, ao longo do seu desenvolvimento, a profícua obra do autor vai adquirindo novos contornos, que, por vezes, se distanciam dos objetivos centrais dessas primeiras narrativas,