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12070 palavras 49 páginas
O cotidiano dos escravos em Antonina
Sílvia Correia de Freitas1

Cada instância do social apreende um aspecto particular das mudanças e permanências históricas e o expressa de uma determinada maneira. É através da complexidade da relação entre vários discursos do passado e o do historiador que se situa a possibilidade de fazer história, de construir o saber histórico. Não se trata, portanto, de restituir simplesmente o que foi dito no passado privilegiando um discurso, seja ele qual for, contra outro. Mas, sim, de verificar sua condição de verdade- especifica- enquanto um discurso oriundo de uma parte do social, que não è único ou harmônico e que nos oferece uma (não a única) visão de seu próprio mundo.2

Depois de visitar algumas vezes Antonina e de conversar com muitas pessoas, acabei por encontrar estes documentos, os processos criminais, que muitos me falaram que nem existiam mais. Eles estavam esquecidos no fundo de uma despensa no Fórum Luis Silva e Albuquerque, misturados a muitos produtos de limpeza, vassouras, lâmpadas queimadas e revistas pornográficas. A princípio o trabalho foi braçal, retirar todo o entulho que estava na frente para poder chegar até os processos e retira-los daquele lugar apertado e poeirento. Mas, quando comecei a lê-los, percebi que o trabalho não tinha sido em vão!
Os processos criminais nos permitem uma aproximação com a fala escrava, mesmo que filtrada pela pena do escrivão. Esta é uma documentação que, a parte dos objetivos pelos quais foi criada, ilumina o registro do cotidiano. Ela mostra-se extremamente rica no sentido de oferecer não apenas o discurso de senhores, agregados, negociantes e lavradores, mas igualmente dos escravos a respeito de um mesmo acontecimento.*
Esta documentação mostra-se muito útil no sentido de possibilitar uma descrição densa, proposta por Geertz. Ela permite o entendimento do que as declarações poderiam ter de significado para as pessoas que as formularam.
A partir destes processos criminais podemos

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