17600 54239 1 Psicologia Ecorpo

O CORPO EM CONFLITO
Arlete KOENEN*
UMA ETERNA IMPROVISAÇÃO
Se "o problema não e inventar.

ser inventado hora após

hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente", esta também é a situação do sujeito que povoa os mais recentes poemas de
Carlos Drummond de Andrade.
Escolhendo estes versos como epígrafe aos seus poemas organizados sob o titulo de Corpo, o poeta nos transmite uma certeza nova de que a mudança opera em tudo, em nós também, uma eterna improvisação. Mas ate que ponto podemos manter-nos em coerência com o nosso eu, frente es ineviteveis mudanças em um mundo sob o signo de permanente ameaça ao homem? Eis o conflito.
Conflito -- nódulo temãtico que governa a organização do livro de Carlos Drummond de Andrade. Este conflito apreende as aço- es do homem em seu

estar-sendo e sua relação com o espaço

social.
O texto poético de Drummond se alicerça em duas partes diferentes e complementares: o pessoal e o social. São como dois volumes diferentes, um centrado no canibalismo amoroso; o outro, focalizando a devoração do homem pelo homem, em uma sociedade capitalista onde predominam violentos contrastes entre as diversas camadas sociais.
A união entre estes dois espaços se de através de imagens organizadas em torno do corpo humano. Em recente entrevista, o poeta fala de seu livro: "— Trato do amor, daquilo que se realiza através do corpo". 1 E diz ainda o próprio Drummond:
" -- A ideia do corpo pode ser considerada como a reunião de todas as virtualidades do ser humano, não

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s6 físicas, como espirituais e morais. Evidentemente, meu Corpo não é. um tratado de filosofia nem de religião. Mas procurei destacar certos aspectos do corpo como motivo de poesia, principalmente o da mulher, porque para mim o sexo é uma das riquezas do prOprio corpo."2
Mas o que significa a imagem despedaçada de Dionisio? A poesia drummondiana, imbuída de protesto, pae em relevo o homem buscando reunir os fragmentos da imagem individual, pressionado por uma participação que lhe