1409 FiloTecno 2015 1 8

1273 palavras 6 páginas
Tela total1

Jean Baudrillard

Vídeo, tela interativa, multimídia, Internet, realidade virtual: a interatividade nos ameaça de toda parte. Por tudo, mistura-se o que era separado; por tudo, a distância é abolida: entre os sexos, entre os polos opostos, entre o palco e a plateia, entre os protagonistas da ação, entre o sujeito e o objeto, entre o real e o seu duplo. Essa confusão dos termos e essa colisão dos polos fazem com que em mais nenhum lugar haja a possibilidade do juízo do valor: nem em arte, nem em moral, nem em política. Pela abolição da distância, do “patos da distância”, tudo se torna irrefutável. Até no domínio da física: a demasiada proximidade do receptor e da fonte de emissão cria um efeito Larsen que confunde as ondas. A excessiva proximidade do acontecimento e de sua difusão em tempo real cria a indemonstra­bilidade, a virtualidade do acontecimento que lhe retira a dimensão histórica e o subtrai à memória.2 Por toda parte onde opera essa promiscuidade, essa colisão dos polos, há massificação.
Até no reality show, onde assistimos, na narrativa ao vivo, no acting televisual imediato, à confusão da existência e de seu duplo. Nada mais de separação, de vazio, de ausência: entramos na tela, na imagem virtual sem obstáculo. Entramos na vida como numa tela. Vestimos a própria vida como um conjunto digital.
Diferentemente da fotografia, do cinema e da pintura, onde há uma cena e um olhar, a imagem-vídeo, como a tela do computer, induz a uma espécie de imersão, de relação umbilical, de interação “tátil”, como já dizia McLuhan sobre a televisão. Imersão celular, corpuscular: entramos na substância fluida da imagem para, eventu­almente, modificá-la. Assim como a ciência se infiltra no código genético para transformar desse modo o próprio corpo. Livre para des­locar-se, cada um faz o que quer da imagem interativa, mas a imersão é o preço dessa disponibilidade ilimitada, dessa combinatória aberta. Dá-se o mesmo com o texto,

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