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Lígia Helena Hahn Lüchmann*
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á está mais do que anunciado o crescimento recente da literatura sobre democracia deliberativa, incluindo-se aí o Brasil1. De acordo com Álvaro de Vita (2004), uma das principais razões para esse crescimento exponencial seria o fato de a democracia deliberativa oferecer respostas para a pergunta: “sob que condições é de se esperar que a democracia produza resultados políticos justos?” (idem, p.107).
Longe de querer entrar no campo do debate internacional sobre a democracia deliberativa e muito menos apresentar um quadro das suas diferentes formulações, pretendo aqui, inicialmente, sugerir outras razões (correlatas) para o crescimento desse referencial em terras brasileiras, brevemente apresentadas a seguir.
Em primeiro lugar, a crise do modelo de representação política que, embora com especificidades locais, segue uma dinâmica internacional que apresenta algumas características gerais: declínio do comparecimento eleitoral; ampliação da desconfiança dos cidadãos com relação às instituições políticas; esvaziamento dos partidos políticos, por meio, entre outros, da burocratização de suas estruturas internas e crescente interferência da mídia junto
* Professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Núcleo de Pesquisa sobre
Movimentos Sociais da mesma instituição (NPMS-UFSC). Endereço eletrônico: ligia@cfh.ufsc.br. 1 O presente artigo foi apresentado no II Seminário Nacional do Núcleo de Pesquisas sobre os Movimentos Sociais da UFSC, no dia 26 de abril de 2007.
Nº 11 – outubro de 2007
ao processo eleitoral (Miguel, 2003). No caso brasileiro, o descontentamento com a classe política é, como sabemos, generalizado.
Basta consultarmos algumas pesquisas sobre o grau de confiança em nossas instituições políticas para constatarmos essa realidade2.
Além disso, a reconstrução ou a consolidação da