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A maioria dos estudiosos da língua que tenta ensinar como se deve escrever mostra exemplos de textos bem construídos e claros, sobretudo claros. Apontam-se em geral como boas qualidades do texto a correção, a precisão e, sempre, a clareza. Elas são marcas de textos de gente como Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Drummond, Millôr Fernandes, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Verissimo e outros muitos.

Mas seria bom mostrar às vezes exemplos de textos execráveis. Não é boa prática pedagógica, mas pode impressionar indelevelmente os interessados para que jamais escrevam de modo rebuscado. Como o texto de um acadêmico especialista em literatura publicado num jornal de grande circulação. Nele não há nenhuma incorreção formal. Só que o ajuntamento de palavras eruditas, num formidável emaranhado de intercalações de frases, dá a impressão de que ele exagerou de propósito para fazer graça. Mas não, ele não estava tentando fazer graça.

Em seu texto, o autor demonstrou grande apreço pela erudição. Tão grande apreço talvez o tenha levado a inebriar-se na própria sabedoria. Por isso terá sido incapaz de notar seu hermetismo de casulo enclausurado:

"Se a mudança de paradigma pode soar herética, coisa de neopositivista extemporâneo, registre-se que o autor, de origem marxista e nada tolo, desloca a ênfase para a perplexidade que a consideração de dados quantitativos abre, sem perseguir a quimera de uma causalidade unívoca, feliz quando, ao termo, encontra 'um problema do qual ignorava a solução'."

Valendo-se de modelos hipotéticos e metáforas explicativas tomadas aos avanços recentes nos estudos sobre a evolução natural, o redator aposta que, também na literatura, deve prevalecer o caráter cumulativo dos achados analíticos, vacina contra o risco de 'tábula rasa' que, muitas vezes, assombra a crítica hermenêutica, tomada pelo rigor analítico do objeto fechado em si e recalcitrante na reinvenção da roda.

Com boa vontade, resume-se assim seu discurso:
"Pode ser que

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