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1542 palavras 7 páginas
Roberto Schwarz, crítico literário especialista na obra de Machado de Assis, no capítulo “As idéias fora do lugar” do livro “Ao Vencedor as Batatas“, publicado em 1977, afirma: “Ao longo de sua reprodução social, incansavelmente Brasil põe e repõe idéias européias , sempre em sentido impróprio. É nesta qualidade que elas serão matéria e problema para a literatura. O escritor pode não saber disso, nem precisa, para usá-las. Mas só alcança uma ressonância profunda e afinada caso lhes sinta, registre e desdobre – ou evite – o descentramento e a desafinação”.
Para Schwarz, no Brasil, as idéias estão fora do lugar. O ensaio é baseado na idéia de Marx de que “a estrutura determina a superestrutura”, ou seja, o social dá a forma da literatura, Machado teria visto a grande contradição que conformava o Brasil: a estrutura era atrasada e colonial, enquanto a superestrutura seria adiantada e liberal. Enquanto existia escravismo, o parlamento era ao estilo inglês. Machado de Assis teria observado isso e, sutilmente, sua ironia viria daí, da visão da grande contradição social que Schwarz chamou de “comédia ideológica”.
Schwarz procurou ver na gravitação das idéias determinado movimento que singularizava o País. Partiu da observação comum, quase uma sensação, de que no Brasil as idéias estavam fora de centro, em relação ao seu uso europeu. Ele apresentou certa explicação histórica para esse deslocamento, que envolvia as relações de produção e parasitismo no país, a nossa dependência econômica e seu par, a hegemonia intelectual da Europa, revolucionada pelo Capital. Ele indica o alcance mundial que têm e podem ter as nossas esquisitices nacionais.
Em resumo, as idéias liberais não se podiam praticar, sendo ao mesmo tempo indescartáveis. Pouco ajuda insistir na sua clara falsidade. Mais interessante é acompanhar-lhes o movimento, de que ela, a falsidade, é parte verdadeira.
Schwarz mostrou o Brasil, bastião da escravatura no século XIX, envergonhado diante delas – as idéias

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