ZALUAR ALVITO

Acary o Pablo das Oliveiras. Cem anos da autorização para os ex-combatentes de Canudos ocuparem o morro da Favela. Um século de expansão, transmutação, integração precária e contraditória do fenômeno que, substantivado, é inerente à singularidade e à personalidade do Rio de Janeiro. A favela, no plano das representações, inspirou dos sentimentos humanitários ao imaginário preconceMuoso, da idealização do estar mais perto do céu ao território promíscuo de populações sem moral, foco de doenças, sítio de vadiagem. Dous e demônio habitam a favela. Os autores reconstituem o movimento pendular de atenção que vai da exclusão do mapa oficial da cidade à representação da favela pictorizada em folhetos de propaganda turística. Nos fazem caminhar do conceito de favela como a residência precária dos pobres e excluídos ao microcosmo fecundo da genialidade popular criadora da música e do espetáculo brasileiros. A favela como lugar de condensação das carências à favela como porta do entrada para um mundo de mistério e maravilha. De lugar anódino e sem ordem a um território organizado segundo códigos próprios, com hierarquias definidas, quase uma micronação. Os autores sublinham a dificuldade intelectual de construir o paradigma ou o tipo ideal de favela. Esquadrinham a complexidade e a dinâmica diversificada da favela em sua interação com as instituições supralocais. Registram a presença tênue, porém persistente e crescente, da favela na cidade. Os intelectuais convocados para este…