O paraiso destruido
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. Seu autor, Frei Bartolomé de Las Casas, inicialmente encomendero, toma parte na campanha de Panfilo de Narvaez, na conquista de Cuba. Posteriormente, ao ouvir um sermão de Frei Montesinos em favor do indígena, Las Casas renuncia a seus lotes de índios, ingressa na ordem dos dominicanos, passando a abraçar a causa dos nativos americanos.
A ambigüidade caracteriza o discurso desse religioso porquanto denuncia e recusa a violência, mas ao mesmo tempo deseja impor ao outro a sua religião que considera como a única e universal. Imbuído do espírito evangelizador, o dominicano realiza batizados e prédicas religiosas em meio a massacres e martírios. Para ele, importa expor as coisas da fé e levar as almas para o céu. Além disso, desejando dar provas da racionalidade dos indígenas, utiliza expressões qualitativas para designá-los: mansos, dóceis e crentes. Essa aparente docilidade e passividade pode conter a manipulação ideológica na medida em que o discurso do conquistador só podia ter efeito e sentido quando referido ao discurso do índio. Aqui o referente calou-se²² , sendo uma forma silenciosa de resistência.
Para demonstrar a docilidade do índio, o dominicano contrapõe o desejo de j poder e status, a ganância e a violência do j conquistador, calculando em milhões a perda de almas que morrem sem fé e sem ! sacramento. A afirmação explicita que, num determinado momento, os índios demonstram cordialidade e certa passividade frente a seres enviados por seus deuses. Pode-se pensar, contudo, que essa passividade posteriormente foi camuflada em resistência por falsas indicações de tesouros em terras longínquas. A fundação de Castilla del Oro, cidade batizada com esse nome, tem origem nas informações dos índios de que por