O grande massacre de gatos
Por Claudio Marcio Coelho – Núcleo de Estudos Indiciários – DCSO – CCHN-UFES, Vitória: 2006
No livro O grande massacre de gatos e outros episódios da história francesa (1984), publicado no Brasil em 1986, o historiador Robert Darnton explora visões de mundo pouco familiares. A análise de episódios aparentemente insignificantes da história francesa tem como resultado a narração de momentos surpreendentes. Darnton analisa as maneiras de pensar na França do século XVIII, e defende uma interpretação renovadora. Para o autor, não basta mostrar ‘o que’ as pessoas pensavam. O historiador precisa identificar e interpretar ‘como’ estas pessoas pensavam. Para tal, é preciso revelar como os indivíduos atribuíam significado e emoção a realidade social. A construção desta perspectiva permite entender sua ‘visão de mundo’, e a constatação de realidades multifacetadas, diversificadas e muitas vezes surpreendentes.
Na apresentação da obra, Darnton reafirma o propósito de deixar de lado a ‘estrada principal da história intelectual’ pela análise conhecida como História das Mentalidades, que pode ser simplesmente chamada de História Cultural. Esta perspectiva está marcada pela tendência etnográfica, e entende a cultura com ‘c’ minúsculo.
Enquanto o historiador das idéias esboça a filiação do pensamento formal, de um filósofo para outro, o historiador etnográfico estuda a maneira como as pessoas comuns entendiam o mundo. Tenta descobrir sua cosmologia, mostrar como organizavam a realidade em suas mentes e a expressavam em seu comportamento. Não tenta transformar em filósofo o homem comum, mas ver como a vida comum exigia uma estratégia. Operando ao nível corriqueiro, as pessoas comuns aprendem a “se virar” – e podem ser tão inteligentes, à sua maneira, quanto os filósofos.1
Darnton alerta os pesquisadores sobre os perigos do anacronismo. A falsa