O Deus Abortado

897 palavras 4 páginas
Quando subi as decrepitas escadarias do hospital Saint Louis em Bangladesh, empunhando meu fuzil M114 7,62mm, na retaguarda de uma fila composta apenas por capacetes azuis da ONU, eu senti medo.
Um medo tão irracional e primitivo que seria impossível descrever em palavras o quão imenso ele era. E sua causa era apenas uma: eu não sabia o que me esperava no final daqueles degraus.
Lembro-me vagamente de que horas antes daquele momento encontrava-me na base da Missão de Paz da ONU na Índia quando rumores sobre uma insurgência civil começaram a circular pelas tendas dos militares. Menos de quarenta minutos depois o rumor virou realidade e todos nós subimos nos caminhões e seguimos com nosso armamento em direção à Bangladesh.
Quinze minutos de viagem depois, lá estávamos nós, transpondo a força um mar de pessoas que ocupavam as largas ruas indianas. A população gritava e esperneava. Vi mulheres e crianças chorando copiosamente. Observei velhos que erguiam seus braços aos céus e clamavam em uma língua esquisita. E os corpos jogados por todos os cantos, um sem-número de corpos espalhados pelo asfalto.
Toda a guarnição observava estupefata àquela situação. Em dois anos de missão só havíamos enfrentado duas manifestações populares, e nenhuma se comparava aquilo que acontecia sob nossos olhares... O povo estava em êxtase.
O tradutor do grupamento colocava a todo momento a cabeça para fora do caminhão e, contra os gritos enfurecidos de nosso sargento, tentava escutar o que a população gritava naquela algazarra.
Seus olhos cheios de pavor me diziam para não perguntar o que ele havia entendido daquelas palavras exóticas e aparentemente todos pensaram a mesma coisa, pois nenhum de nós, com exceção do sargento, disse uma só palavra em todo caminho.
Shiva...Shiva...Shiva... Foi a única palavra que todos nós entendemos quando chegamos ao hospital.
A população o cercava e o exército local tentava a todo custo manter os portões fechados. Desembarcamos e abrimos caminho no meio da

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