O cágado

O cágado O cágado é um conto do escritor Almada Negreiros que trás como pano de fundo a vontade exacerbada e individualista do homem. Um conto ficcional, conciso, composto de um único parágrafo e de muita profundidade. Apresenta uma composição narrativa e circular onde o escritor faz uma experimentação do ponto de vista formal e estético. O surrealismo presente no conto marca uma das tendências literárias do sec.XX. O conto aborda a concepção de homem cartesiano: racional e centro de tudo e que a partir dessa percepção relata à incomum e impulsiva aventura de “um homem que era muito senhor da sua vontade”, ou seja, o homem apresenta um paradigma estabelecido pela sociedade capitalista ao qual o autor faz uma retomada da noção realista do homem dominado pelo meio. O homem senhor de sua vontade se coloca diante de uma situação surreal e inesperada ao se deparar com um cágado, animal que não conhecia e que desejava desesperadamente. Esse desejo é proveniente da vontade desmesurada, na vontade se ser racional e que o leva a irracionalidade ocasionando a falta de razão e ambição do “homem senhor de sua vontade”. Irracionalidade que aparece no ato de escavar o buraco na tentativa de capturar o cágado. Era preciso mostrar a todos o animal, provar que conseguira um “troféu”. O impulso que direciona o homem a complexidade do ato de cavar sem perceber o óbvio pode levar o leitor a entendê-lo como conseqüência do egoísmo e da falta de percepção em que este se julga capaz de ir além das forças da natureza, num ato negligente de egoísmo de quem não percebe o que acontece ao seu redor. O cágado vai representar a transformação do homem que no decorrer da narrativa perceberá que a dominação não resolve. O ato de escavar a terra formando um buraco profundo inconseqüente, exaustivo leva-nos a refletir sobre o homem, o trabalho e a transformação da natureza, a exploração dos recursos naturais feita de maneira desordenada pelo homem em que este busca a