O argumento ontológico e o problema da possibilidade da existência de Deus

4132 palavras 17 páginas
O argumento ontológico e o problema da possibilidade da existência de Deus
Pedro Merlussi
Universidade Federal de Ouro Preto

Introdução
Na publicação do Proslogium, Anselmo de Aosta (1033-1109) apresentou um dos mais importantes argumentos a favor da existência de Deus da história da filosofia: o argumento ontológico. Este argumento sustenta a existência de Deus recorrendo unicamente a premissas conhecíveis a priori.1 Embora o argumento ontológico não seja propriamente um único argumento, mas, como escreve Rowe, "uma família de argumentos" (Rowe, p. 42), pois encontramos diferentes versões em filósofos como Descartes (1646-1716) e Leibniz
(1646-1716),2 a versão de Anselmo é a mais importante. A sua importância resulta de levantar um número elevado de questões filosóficas fundamentais e de ter estimulado uma série de reflexões ao longo da história da filosofia. No entanto, não tenho a pretensão de expor todos os comentários e discussões referentes ao argumento de Anselmo. Tampouco me limito a considerações meramente histórico-filosóficas. O interesse do presente ensaio é mais específico: apresentarei o argumento a fim de discutir sua segunda premissa ("será
Deus um ser possível?"). O objetivo é mostrar que o defensor do argumento ontológico está obrigado a admitir que Deus é um ser nomologicamente impossível (tais conceitos serão explicados ao longo do texto). E não só isto; pretendo sustentar também que não há boas razões para aceitar a segunda premissa do argumento. Se a crítica for correta, não podemos considerar o argumento de Anselmo uma prova sólida a favor da existência de Deus.

O argumento ontológico e o conceito anselmiano de Deus
Anselmo estava convencido de que, se aceitássemos apenas três premissas, estaríamos obrigados a aceitar a existência de Deus mediante uma reductio ad absurdum.3 Vejamos, então, quais são estas premissas:
Deus existe no pensamento.
Deus é um ser possível.
Se algo existe no pensamento e podia existir

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